O pior cabo eleitoral

Henrique Brino
3 min readDec 21, 2020

Thaís Oyama publicou um editorial revelando seu entendimento acerca das frustradas tentativas de Jair Bolsonaro como cabo eleitoral nas eleições municipais. Conforme podemos observar em seu texto, destaca-se um derretimento da influência do presidente para com seu suposto eleitorado, que deveria apoiar determinados candidatos à prefeito.

Todavia, como o próprio título desta postagem destaca, podemos concluir que a performance do presidente como agregador de votos é errática. A matéria, publicada no site UOL Notícias, contabiliza que Bolsonaro apoiou 14 candidatos, tendo logrado êxito em sua empreitada eleitoreira em apenas 2 casos. O último dos tentantes a prefeito foi o irmão do presidente do Senado Davi Alcolumbre. Bolsonaro atuou na campanha do irmão do aliado enfatizando seu perfeito alinhamento para com a presidência da República.

Esta última atuação do presidente nas campanhas municipais culminou na derrota do irmão de Alcolumbre. Tendo em vista o saldo apresentado até agora, cravamos o amplo despreparo do capitão em entender que a velha política não está mais a cooptar eleitores. Faltou à sua percepção que não basta que o eventual prefeito tenha aliados, independentemente de seu cacife.

A perde de influência do presidente para com seu eleitorado vem reforçar cada vez mais que o que elegeu este governo patético foi o voto útil e não uma massa conservadora coesa. Devemos sim nos atentar ao fato de que existe uma miríade de pessoas de ideologia conservadora com capacidade de agremiação e perseguição de determinados posicionamentos políticos. Porém, este rol de brasileiros não possui capacidade de eleger um novo governo de direita para o cargo máximo da República.

Cumpre citar aqui a análise da jornalista responsável pela matéria, que faz uma observação quanto à influência de Bolsonaro ter permanecido no interior do Brasil. Acredito ser uma visão equivocada, haja vista a mesma ser baseada em dois pontos: o auxílio emergencial e o fortalecimento do agronegócio.

Quanto ao auxílio emergencial, podemos destacar que o sentimento acerca de sua eventual redução ou corte seja próximo em relação ao cidadão médio. O texto diz que seria mais brando nas cidades do interior. Penso que, em razão do auxílio emergencial representar mais renda no interior do que nas capitais, o descontentamento seria maior justamente no interior. Não podemos assumir a ilusão de que R$ 600,00 seriam de fato determinantes para assegurar a sobrevivência em uma capital como São Paulo.

Segundo ponto a ser debatido é a respeito da alta do dólar, que reflete nos contratos do agronegócio. Outro pensamento, ao meu entender, equivocado, haja vista a alta do faturamento dos grandes produtores agropecuários não ser convertido em circulação de renda no interior dos estados, onde os grandes latifúndios estão localizados. Estes grandes produtores retiram seu investimento dos grandes latifúndios e investem em bancos, negócios não relacionados à agropecuária e imóveis não produtores.

A partir desta visão, podemos entender que o eleitor das capitais deveria manter o apoio ao Bolsonaro, haja vista os grandes agricultores residirem nas grandes capitais e investirem seus lucrosa em negócios diversos ao do ramo agropecuário, assim como o auxílio emergencial ser um favor menos determinante na capital do que no interior, em razão da quantidade da renda per capita que representa.

Neste sentido, promovo duas reflexões acerca do texto da jornalista Thaís Oyama: as capitais e os grandes centros estão se desligando mais rapidamente de Bolsonaro por estarem mais ligados a centros formadores de opinião, como os sindicatos, as universidades, as grandes corporações; o interior do Brasil é responsável pela maior parcela de apoio ao presidente em razão da maior dificuldade no acesso à informação embasada e por estar mais sujeito às influências sociais de sua região, onde alguns pilares culturais se sustentam, como os ideais da velha política.

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Henrique Brino
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Entusiasta da política e prolixo em outros assuntos